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O Diário de Adão e Eva

domingo, 27 de novembro de 2011

(Autor: André Filipe, Aefe)


Recentemente, foi encontrado na região da Mesopotâmia, dois documentos muito antigos, separados, que alguns estudiosos julgam crer terem sido escritos, em separados mas concomitantemente, pelos pais da humanidade Adão e Eva, no decorrer de suas vidas, como um diário, os primeiros da humanidade. Após tradução, e organização dos documentos em ordem cronológica, juntando os dois “diários”, ficou assim:

ADÃO:

No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia, até que eu abri os olhos e houve luz. E que luz. Fechei o olho rapidinho de tão forte que era. Cerrei os olhos e fui abrindo devagar até que aquela luz amarela foi tomando a forma das nuvens, dos pássaros, do céu azul. Eu vi que tudo quanto Deus havia feito era bom.

Passei por todo o jardim, tudo bom, as árvores, frutas, corri muito, aprendi a gritar do alto do monte e pular na água. Foi só depois que nomeei tudinho, escrevendo numa folha de bananeira.

À tarde, observando os animais, bateu uma tristeza porque eu não tinha para quem contar o quanto eu estava feliz. Daí tive uma ideia, peguei um pouco de barro e moldei um homem semelhante a mim… Foi neste momento que o Senhor passeava por ali, e quando o vi, corri de medo, não se porquê. Corri muito, que nem um doido. Tanto que me bateu um sono profundo, que cai na grama por muito tempo. Acordei com a sensação de um sono muito bom. Quando olhei para o lado, havia um outro alguém diferente e pulei de susto.

Quem é você? – perguntei.

EVA: Não sei… acho que eu sou você.

ADÃO: Mas você é diferente.

EVA: Então eu sou você diferente!

ADÃO:

Fiquei muito feliz porque mais que alguém igual a mim, alguém igual mas diferente é tudo o que eu sempre quis. Tratei de arrumar-lhe um ramo de flores, que deixou ela muito feliz, depois apresentei ela ao mundo, dando os nomes, e depois ensinei-lhe um jogo na água e nos divertimos muito.

À noite, ensinei-lhe o nome das estrelas. Houve tarde e manhã o sexto e melhor dia da minha vida.

EVA:

Quando acordei, Adão dormia e observei curiosa. Quando ele acordou, trocamos algumas palavras, e ele me pareceu estranho. Arrancou as pobres plantas da terra e me deu. Fiquei constrangida sem saber o que fazer com aquilo, mas agradeci com um sorriso.

Depois ele me levou para conhecer o mundo… Andamos muito e ele mal percebia que eu já estava morta de cansada, além do mais, achei tão feio os nomes que ele colocou que devo me lembrar de renomear tudo de novo.

Depois fomos para o lago brincar de um jogo bobo que ele me ensinou, mas mesmo assim nos divertimos muito.

À noite, eu estava exausta. Nos deitamos na grama e ele não parava de falar. Não prestei atenção, só me recordo da deliciosa sensação de deitar junto dele, antes de dormir.

Depois daquele dia, tudo andava muito bem. Passeávamos juntos, conversávamos muito. Às vezes ele prestava atenção. Riamos e brincávamos juntos. À noite, dormíamos descansados sobre as estrelas. Até que um dia, quando caminhávamos por uma vinha, ele sumiu! Fiquei sozinha o dia inteiro!.

ADÃO:

Os dias andavam meio pacatos, até que aconteceu: enquanto caminhava por uma vinha, uma serpente passou por mim, e quando fui pegá-la, ela me escapou. Corri atrás dela, e sempre que eu quase a pegava, ela escapava e sumia. Ficava procurando, investigando e buscando meios de capturá-la. Fiz isso a tarde toda.

Quando cheguei em casa, eu estava exausto e a Eva não parava de falar, tagarelando o tempo todo. Então saí e fui dormir na árvore, pois precisava de paz para pensar numa estratégia para pegar a serpente.

EVA:

Esperei ele a tarde toda. Fiquei preocupada, queria saber se algo havia acontecido com ele. Fiquei sozinha o dia inteiro. Quando ele chegou, ele mal prestava a atenção em mim, e sem falar nada, foi embora.

No outro dia, a mesma coisa. Fiquei a tarde inteira sozinha. Com raiva pelo horário que ele chegou, fingi estar dormindo. Então ele se deitou e nem teve a curiosidade de saber se era verdade!

ADÃO:

Hoje, inventei uma nova forma de capturá-la. Um engenho com galhos, pedras e cipó. Tentei a tarde inteira com inúmeras frustrações. Cheguei arrasado em casa. Queria contar à Eva, mas quando cheguei ela estava dormindo! Dormindo antes de mim! Fui dormir enfurecido.

No outro dia, mais frustrações com a serpente. Não importava o quanto rápido eu fosse, quantas armadilhas eu fizesse, nada me fazia pegá-la.

Cheguei em casa mais cedo e encontrei-me com Eva, que estava estranha. Compartilhei com ela as minhas frustrações e ela disse ter encontrado um fruto que me ajudaria a dar conhecimentos e habilidades para pegar a serpente. Iremos até a árvore amanhã pela manhã.

EVA:

Mais uma vez, esta tarde, Adão me deixou sozinha. Cansada de esperar, tomei uma decisão, fazer outro Adão de barro. Peguei o barro, passei a moldá-lo, fazendo as alterações que eu achava necessárias. Quando terminei, não consegui fazê-lo viver, então, uma serpente apontou-me um fruto que me daria poder suficiente para fazer o barro viver. Comi do fruto, e quando voltei para casa, Adão estava lá e amavelmente chorou ao meu ombro, contando suas frustrações. Tenho certeza que o fruto o ajudará no que precisa.

ADÃO:

Houve tarde e manhã e fomos expulsos do paraíso para um lugar hostil, terrível. Eu sinto cansaço, não tenho mais fôlego para correr. Me sinto tão fraco. Tenho vergonha de Eva, pois não consigo dar a ela o que precisa. Chorei por 3 dias. Fujo pelas matas e só vou para casa quando tenho certeza que ela está dormindo. Quase não nos falamos.

Ela está diferente, engordou. Estou com medo.

EVA:

Tudo mudou muito desde que fomos expulsos. Não há mais comida em abundância e preciso buscar eu mesma a comida, pois o Adão some e eu mal sei do seu paradeiro. Eu colho frutos, caço, cozinho. Fiz uma cabana por causa das chuvas fortes. Sinto-me enjoada, e minha barriga cresceu. Sinto batidas. Era estranho. Até que após dores muito fortes, tive dois meninos lindos.

Com o nascimento dos garotos, minha esperança estava toda neles, pois Deus havia dito que nossa salvação viria de meus descendentes.

Por outro lado, os trabalhos dobraram e Adão mal quis saber o nome dos meninos.

ADÃO:

Eva teve dois filhos nossos. Isso me traz muita esperança. Não quero nem me encontrar com eles. Vou observá-los crescer e nos salvar como Deus prometeu. Toda minha esperança de salvação agora está nos nossos filhos.

EVA:

Os meninos estão grandes, estão crescendo, mas Adão mal fica com eles, não lhes ensina sobre Deus. Tenho dito a ele que, não é porque Adão não teve pai, que nossos filhos não poderiam ter um. Mas ele não me ouve!

ADÃO:

Uma coisa terrível aconteceu! Já não bastasse tudo o mais. Um dos nossos filhos matou o outro e fugiu! Perdemos os dois filhos de uma vez, e toda a nossa esperança. Tenho pensando que esta história de salvação era conversa fiada do Criador. Creio que não há mais salvação para nossos filhos.

Eva está arrasada e não olha mais para mim. Só chora. Essa é a grande diferença entre nós: enquanto as mulheres choram, os homens trabalham. Agora eu caço e colho frutos durante a tarde toda. Quando eu chego, Eva cozinha a carne, mas comemos calados e sem nos falar. Acho que ela está grávida novamente.

EVA:

única anotação: pode existir dor maior para uma mãe que o de perder um filho? Sim, a de perder um filho pelas mãos do outro filho.

ADÃO:

Eu e o Sem, meu filho, saímos às tardes e tem sido muito bom. Tenho lhe ensinado a caçar e colher frutas e ele aprende com muita inteligência. É um ótimo caçador. Tenho certeza que ele será um homem melhor do que eu.

EVA:

Adão tem sido um bom pai para Sem. Eles chegam da caça e jantam juntos e depois ainda conversam bastante. Eles tem me dado muito orgulho.

Sem já escolheu sua mulher dentre suas primas e logo deverá nos abandonar. Eu e Adão estamos envelhecendo…

Última anotação de EVA:

Ontem Adão me deixou para sempre. Andava doente e cansado dos dias. Por causa disso, antes de partir, pediu que reunisse toda a família, todos os filhos e filhos dos seus filhos. Reunimos uma imensidão de filhos e a família estava enorme. Adão e eu ficamos muito emocionados.

Então, após rever todos os nossos filhos e as famílias que eles formaram, ele pediu para subir em um monte afim de dar sua última palavra. Ele disse que estava em débito com a família por conta de algo muito importante.

Falou sobre o amor de Deus, o Criador. Lembrou do Éden, e de tudo o que Deus havia criado para nós. Depois disso, pediu perdão em meio às lágrimas aos seus filhos pelo seu pecado original, e nos contou do grande perigo de afastar-se de Deus para outros propósitos. Falou que a vida só valia a pena se adorássemos a Deus, e que apesar de todos os nossos erros e nossas inabilidades, Deus continua conosco, e providenciou salvação para todos nós, através do seu descendente, a quem deveríamos todos esperar com muita expectativa. Pediu a todos os seus filhos que se lembrassem de Deus e que reconstruíssem o mundo após o estrago que havia feito, afastando-se da maldade e se tornando imagem e semelhança de Deus.

Quando acabou todos estavam chorando, orando e adorando a Deus. E contavam uns aos outros aquela história.

No início da noite, depois que nos despedimos de todos, Adão me levou no lago e lá pediu desculpas por não ter estado ao meu lado sempre que precisei.

Ficamos os dois em silêncio, e, com os rostos refletidos no lago, junto às estrelas, como se Deus, satisfeito, estivesse espiando a nós dois, perguntei a ele:

- Quem é você?

- Não sei, acho que sou você.

- Mas você é diferente.

- Então sou você diferente.

E deitei em seu ombro.

Vi então que tudo quanto Deus fizera era muito bom!

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O hotel, a torre e o quarto | A.V. 5

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

(Autor: Rodrigo Maia)
<< Episódio anterior









Terminei de atravessar a ponte e cheguei em um bairro chamado Estação. Acho que tinha esse nome por causa da estação e da maria fumaça que tinha no fim da rua.

Era uma rua bem larga dividida em outras três por uns canteiros de grandes árvores. Alguns canteiros tinham uma mão de pedra gigante parecendo proteger aquela fileira de árvores.

Fui seguindo as placas até chegar em uma rua que era paralela ao trilho da Maria Fumaça. No finzinho da tarde chuvosa, logo vi uma torre bem alta encoberta por nuvens, vi também a entrada para o hotel. Limpei os pés, fechei o guarda-chuva e logo entrei no hotel, que era aparentemente normal. Estava com cheiro de grama molhada lá dentro, tinha também algumas plantas, um chão xadrez, mas eram losangos ao invés de quadrados. O teto era bem alto e tinha uma escada de madeira bem grossa. Tinha também um mural com eventos, fotos e cartaz. Fui ao recepcionista vestido de vermelho com um chapéuzinho engraçado perguntar como era o pagamento, preços e afins.

O recepcionista me cumprimentou e tirou de baixo do balcão uma tabela de preços. Vi vários preços parecidos, mas no segundo andar tinha um quarto absurdamente barato. Perguntei se o preço estava certo, e ele me respondeu: -Claro!

Eu: -Mas porque esse é tão barato?

O recepcionista pegou o óculos que estava pendurado no pescoço, olhou franzindo a testa e apontando o dedo na tabela me respondeu: -O senhor já viu esses outros quartos do mesmo andar? Estão com preços ótimos.

Bom, como não sou um cara rico, respondi: -Acho que vou querer esse quarto barato mesmo.

Aí meio assustado, o recepcionista me disse: -Acredite em mim. Não vai querer ficar lá.

Bom, pera aí? Desde quando um hotel nega um quarto pro seu cliente? Só se esse recepcionista for um sabotador contratado pela concorrência. Pensei isso e logo perguntei porque eu não iria querer esse lugar, e ele olhando pra mim com o óculos escorregando pelo nariz me disse: -Posso te contar vários relatos de hóspedes que passaram a noite lá.

Em meio ao som da chuva e clarões de relâmpagos, pensei comigo: -hmmm deve ser coisa desses hotéis de cidade turística..

Falei para ele que não precisava contar porque eu iria ficar ali mesmo, no quarto barato. O engraçado é que quando falei isso deu uma trovoada forte. Parecia coisa de terror. Pensei comigo: Nó! Nunca mais... (rs)

O recepcionista pega a chave empoeirada daquele quarto  e respira bem fundo como quando alguém prepara para dar um discurso. É, ele parecia bem afim de contar as histórias.
... eles podiam ouvir risadas de crianças, mas os relatos mais antigos dizem ter ouvido um choro de um bebê.
Bom, ele me disse a história de uma bela jovem ruiva vestida com algo que parecia uma camisola que aparecia no segundo andar pedindo ajuda para tirá-la de lá, porque o pai dela precisava lembrar quem ela era. Depois disso ela desaparecia. O recepcionista me disse que isso tem se repetido nos últimos 10 ou 15 anos, não me lembro. Antes disso, eles podiam ouvir risadas de crianças, mas os relatos mais antigos dizem ter ouvido um choro de um bebê.

-Ah e também já ouviram som de espadas, gritos e...

Interrompi o recepcionista dizendo: - Errr.. estou um pouco cansado moço. Acho que não vou ver nada de tão cansado que estou. Por favor, me dê a chave desse quarto.

Poxa, para minha surpresa ele silenciou e me deu a chave sem alterar o preço, ou seja, de fato o preço daquele quarto era barato.

Virei e me deparei com um hóspede que me disse logo: -Você não tá achando que é um mito para atrair turistas, está?

Respondi meio sem graça para aquele hóspede asiático de olhos puxados: -Hmmm, eu acho que sim...

O asiático me disse com uma convicção com um tom de fanático, como se estivesse defendendo um herói de gibis: -Não! Se fosse um mito ele não cobraria tão barato.. eu desisti de aluga-lo quando pensei nisso...

Eu: -Mas eu estou cansado, já estou vendo coisas desde a ponte desse bairro...

Um hóspede mais idoso gritou: -Zé menininho? É ele que você viu?

Eu virei e vi um velhinho andando bem engraçado com uma bengala em minha direção de chapéu dos anos 50 com um óculos fundo de garrafa e virando lhe disse: -Zé quem?

Velho da bengala: -É! Quando a gente vê ele embaixo da ponte, ele pula no rio.

Eu: -Não! O que eu vi era bem mai..

Ops! O que eu to fazendo? Eu não deveria ter comentado isso, porque eu até então estava cético. Não acredito que eu ia falar que vi um monstro gigante. ¬¬

Mas quando pensei gigante, alguém falou a mesma palavra enquanto pensava. Era uma senhorinha de cadeira de rodas sendo empurrada por uma garotinha pelo corredor.

Senhorinha: -Você viu só essa criatura, mais nada junto com ela?

Fiz uma cara de ‘hã’ e ‘não é possível’...

Senhorinha: Quando o vi, vi logo em seguida um grande navio passando por cima da ponte...

Logo chega uma mulher tomando o lugar da garotinha dizendo: -Já chega mamãe, deixa o moço em paz, depois você conta suas lendas.

E foi empurrando a senhorinha que tentando virar para trás gritou para mim: -Meu marido está naquele navio! Eu ouvi ele me chamar de lá! Era ele! Era ele! Era ele!

Olhei para os outros perto e todos estavam com uma cara espantada. Pedi licença para todos e peguei meu guarda-chuva com minha mochila para subir as escadas. Quando me virei senti algo agarrando minha perna e: -Ueeei!!

Levei um susto meio tímido, mas quando vi era a garota que empurrava a senhorinha. Ela deu uma risada por causa do meu susto e fiquei mais tranquilo em ver aquele sorriso de criança com alguns dentes crescendo e outros faltando. Ela me disse: - Minha vó disse para dar isso pra quem fosse dormir no quarto 203, que um dia você iria entender.

Eu vi que era um colar com um pingente com fotos. Não tinha como falar não para aquela garotinha, então agradeci e peguei o colar. Assim que peguei, ela saiu correndo toda espoleta para trás da perna da mãe com a mão na boca olhando timidamente para mim. Em seguida vi a avó de cadeira de rodas que chegava perto dela para fazer um cafuné.

Olhei para o colar, guardei na mochila e respirei dando aquela olhada pra cima com cara de ‘ai ai’. Comecei a subir a escada e ainda ouvi alguém gritar: -Boa sorte!

Eu agradeci sem ver quem era e continuei subindo.

Cheguei pelo corredor escuro ao temível quarto 203.

Continua...

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Episódios
1º Temporada - Contos da Aldeia Vila Verde: 

Ep. 5: O hotel, a torre e o quarto << Você está aqui



Ilustrações de Águas do Viana

domingo, 20 de novembro de 2011







  1. Correndo no carro Episódio ?
  2. Ponte da estação - Episódio 4
  3. Velho Homem - Episódio 4
  4. Garotinha - Episódio 5
  5. Balão - Episódio 8

Gênesis sob a lupa e o telescópio

sábado, 19 de novembro de 2011

“Eu advirto: esse texto não é uma coleção de argumentos, mas sim, uma compilação de fatos no mínimo curiosos.”




Estima-se que no universo existam 100 bilhões de galáxias. Em cada galáxia, 100 bilhões de sóis. Em torno de cada sol, 100 bilhões de estrelas. Somente na Via Láctea existem mais ou menos 100 bilhões de buracos negros. (veja esse video: .) Andrômeda gira a uma velocidade de 322.000km/h. Na Via Láctea, encontraram um planeta que está a uma translação de 110.000km/h e uma rotação de 1600km/h. Esse planeta se chama Terra.

O nosso sol produz 4 milhões de toneladas de energia por segundo. Em 11 anos a Terra só utiliza 0,1% de toda essa energia produzida por ele, nesse mesmo periodo de tempo(11 anos). A Terra é um dos únicos planetas de eixo inclinado do sistema solar(23,5 graus), devido a gravidade do sol e da Lua.Se a Terra não fosse inclinada teriamos o efeito “preso por maré”, onde um lado da Terra estaria sempre voltado pro sol e outro lado voltado sempre para a sombra, impossibilitando a vida humana. Qual a probabilidade de um astro do tamanho exato da lua entrar na órbita de um planeta infimo como a Terra, simplesmente porque teve “vontade”, para dar esse puxãozinho gravitacional no eixo da Terra?

Nossa atmosfera possui 21% de oxigênio. 22% , seu mouse pegaria fogo enquanto voce clica nele agora. 20%, seus pulmões não durariam muito tempo. A salinidade do seu sangue está em torno de 3,4%. Mais do isso, você provavelmente seria uma aberração. Menos do que 3,4%, complicações severas seriam previsíveis também. Curiosamente, 3,4% é a mesma salinidade dos oceanos que permite toda a existência de espécie de vida marinha que alimenta boa parte da biosfera, através das teias alimentares gigantescas. A distância do sol até a terra é de 150 milhões de quilômetros. 151 milhões, vida inviável por excesso de temperatura, grandes instabilidades atmosféricas relacionadas a pressão e umidade e desníveis de porcentagem de dos gases essenciais à vida. 149 milhões, vida inviável pelos mesmos motivos, com excessão de um friozinho potente sobre a sua cabeça.

As células do olho humano se resumem em 110 milhões de células tipo cones e 10 milhões de tipos bastonetes que trabalham juntos para captar a luz refletida pelo seu monitor que está diante e você. Todas elas estão interligadas a mais de 1 milhão de fibras nervosas microscópicas, sendo estimuladas contantemente enquanto você lê ISSO. No seu coração existe uma estrutura chamada Nó Sinotrial. É por causa dele que voce não morre enquanto está sentado na frente do computador rindo ou chorando de tristeza das bestialidades do mundo evangélico que fazemos questão de denunciar aqui. Seu cérebro é capaz de fazer em torno de 1 trilhão de sinapses enquanto você está digitando o endereço deste blog na barra de endereços. Em 2 segundos que se passaram sua medula óssea foi capaz de produzir de 2 a 10 milhões de hemácias.

Neste momento você já deve ter produzido em torno de 100 milhões de glóbulos vermelhos no seu fêmur onde está apoiado o seu notebook. Seu corpo é formado por uma média de 100 trilhões de células. Um DNA esticado possui quase 2 metros de comprimento (o tamanho da porta do seu quarto, isso mesmo), muito bem organizado dentro de uma bola gelatinosa e microscópica. Você consegue ir e voltar 250 vezes até a lua, se esticar todos os DNAs de todas as células do seu corpo. Pra quê foguete? Use a escada oras.

Para ver um átomo que forma uma única molécula da sua célula, a olho nu, seria necessário que você tivesse 255.000 km de altura; A proporção é mais ou menos a seguinte: a terra está para uma laranja, como uma laranja está para um átomo.

É fato: existem coisas estranhas, boas e misteriosas acontecendo o tempo inteiro, que nem percebemos durante nossa vida. Vivo me perguntando. “Porque existe tudo em vez de nada?”. O Cris que me responda depois de ganhar o diploma de filosofia.


Fonte:http://crentassos.com.br

O ateísmo lúcido de Lovecraft

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

(Autor: Paulo Brabo)

Meu professor de redação H. P. Lovecraft, de quem herdei o vício de abusar de adjetivos, era um ateu convicto, ocasionalmente militante. A mesma convicção materialista que o fez eliminar dos seus contos de terror qualquer traço do sobrenatural levou-o a duvidar de todas as manifestações tradicionais de religião. Sua histórias não são povoadas por vampiros, fantasmas ou assombrações, e pelo mesmo motivo no seu universo não há espaço para Deus ou para intervenções sobrenaturais1. Tudo no cosmos é gerado pelo acaso, e este domado apenas pelas leis cegas da física. No grande contexto do universo, a vida orgânica na terra não passa de “um acidente minúsculo e temporário”, sendo a própria humanidade “um acidente ainda menor e mais temporário”.

Essas convicções, mais ou menos populares hoje em dia, estavam longe de serem comuns na década de 1930, a última do autor. Acho particularmente notável, no entanto, que a grande reserva que Lovecraft encontrou para apresentar contra o cristianismo não foi o fato de a fé cristã pressupor um universo sobrenatural que contrariava sua visão de mundo materialista. Sua indignação era ao mesmo tempo mais profunda e mais lúcida2:

O cristianismo não tem como ser levado a sério. É ingênuo e anticientífico culpar o mundo por não se conformar a ele – visto que se trata de uma ilusão quimérica e poética totalmente alienígena à natureza humana. [O cristianismo] é absurdo, porque nenhuma raça ou nação poderia (ou deveria) jamais chegar a conformar-se a ele.

E basta este trecho para Lovecraft se mostrar mais agudo e inclemente do que Richard Dawkins ou qualquer outro ateu militante da nova geração. Em particular, Lovecraft enxerga que o cristianismo é uma ameaça para o conceito de raças e nações justamente por propor um ideal elevado demais, um sonho de fraternidade aparentemente impraticável e “totalmente alienígena à natureza humana”.

Ao contrário dos ateus militantes contemporâneos, ele sabe avaliar o verdadeiro peso do seu adversário. Para Dawkins, o cristianismo é uma ameaça à civilização por ser uma religião como as outras; para Lovecraft, é uma ameaça justamente por não ser uma religião, já que as religiões tendem a apoiar e legitimar o estado de coisas. Para Dawkins o cristianismo é um risco perene porque recusa-se a reconhecer a natureza última da realidade; para Lovecraft, ele é um risco porque sonha teimosamente poder alterá-la. Para Dawkins, o cristianismo é uma ameaça por patrocinar a injustiça; para Lovecraft, é uma ameaça por sonhar uma justiça excessiva: por ser uma intransigente ingenuidade e uma declarada insensatez, uma poesia que pode transtornar o mundo se raças e nações não resistirem ao apelo evangélico de conformarem-se a ela. Para Dawkins o escândalo está em, diante de todas as evidências, o cristianismo recusar-se a reconhecer que não há céu; para Lovecraft está em, diante de todas as improbabilidades, o cristianismo insistir em implantá-lo na terra.

Dos dois, só Lovecraft sabe do que está falando.


Leia também:
Wells encontra Jesus

NOTAS
  1. “O que posso dizer é que acho tremendamente improvável que exista qualquer coisa como uma vontade cósmica centralizada, um mundo espiritual ou a sobrevivência eterna da personalidade.” Carta de 16 de agosto de 1932 a Robert. E. Howard. [↩]
  2.  Carta de 14 de dezembro de 1932 a Elizabeth Toldridge. [↩]

Fonte: http://www.baciadasalmas.com